Amanda P. Ambrosio; Giovanna M. Riccielli;
Matheus M. Nascimento
Orientador: Profa. Rebeca Piumbato
Chaparro
FACULDADES OSWALDO CRUZ
Bacharelado em Química
RESUMO O rio Tietê é composto por seis sub-bacias
hidrográficas, com 1100 km
de extensão sendo um dos rios mais poluídos do mundo. O presente estudo
apresenta a avaliação da concentração de metais e elementos traço em um perfil
de sedimento, coletado na região de Itú, região do médio Tietê. Utilizou-se a
técnica de Análise por Ativação com Nêutrons Instrumental e determinou-se a
concentração de As, Ba, Br, Ca, Co, Cr, Cs, Fe, Hf, Na, Rb, Sb, Sc, Ta, Th, U e
Zn. Os impactos antropogênicos foram avaliados a partir das ferramentas de
Fator de Enriquecimento (FE) e índice de geoacumulação (Igeo). Comparando-se os valores de Igeo
com os valores de FE, verificou-se que somente os elementos As, Br e Zn parecem
apresentar influência antrópica no perfil de sedimento analisado. Comparando-se os valores orientadores TEL e PEL para
classificação de qualidade de sedimentos, para o semi-metal As e os metais Cr e
Zn, observou-se que para As, a metade das amostras analisadas apresentaram
valores de concentração < TEL (5,9 mg kg-1), indicando uma ótima
qualidade de sedimentos para esse elemento. Para o Cr, observou-se que nenhuma
das amostras apresentou valores de concentração < TEL (37,5 mg kg-1), sendo
a maior parte com valores entre > 63,7 e < 90 mg kg-1. Para o
Zn, somente as amostras correspondentes às profundidades de 26 a 28 cm e 32 a 34 cm apresentaram valores
< TEL (123 mg kg-1) e nenhuma das demais, excedeu os valores de
PEL (473 mg kg-1).
Palavras
chave: metais. INAA. rio Tietê.
1 INTRODUÇÃO
Analisando os sedimentos em rios e lagos podemos
avaliar a qualidade da água e presença de contaminantes. Nesse estudo
utilizou-se a técnica de Análise por Ativação com Neutrons Intrumental na
região de Itú, região do Médio Tietê para avaliar as concentrações de elementos
traço em mostras de perfil de sedimento. Determinou-se: As, Ba, Br, Ca, Co, Cr,
Cs, Fe, Hf, Na, Rb, Sb, Sc, Ta, Th, U e Zn. Os valores de concentração de As,
Cr e Zn foram comparados aos valores guias do Enviromental Canada (TEL, que representa a concentração abaixo da
qual são esperados raramente a ocorrência de efeitos biológicos adversos e PEL,
nível acima do qual são frequentemente esperados a ocorrência de efeitos
adversos à biota aquática). Estimou-se também os impactos antropogênicos a
partir das ferramentas de Fator de Enriquecimento (FE) e índice de
geoacumulação (Igeo). O FE foi
calculado utilizando-se o Sc como elemento normalizado e os valores do folhelho
médio do NASC (North American Shale
Composite), como valores de referência.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Local de Estudo
O
ponto de coleta do testemunho apresentado nesse estudo corresponde ao ponto 5,
Médio Tietê, cidade de Salto de Itú (Condomínio Terras de Santa Rosa – Salto de
Itú- Rod. do Açúcar.
2.2 Preparo das amostras de sedimentos (testemunho)
O
testemunho de sedimento foi coletado com o auxílio de um amostrador
desenvolvido a partir de um modelo “core sample”, ao qual foi acoplado um tubo
de PVC de 100 cm
de comprimento com aproximadamente 70 mm de diâmetro.
Após
a coleta, o testemunho foi congelado e mantido em freezer até o momento da sua
abertura. Retirou-se o testemunho do freezer um dia antes da sua abertura e
fatiou-se o mesmo, a cada 2 cm
no laboratório. No laboratório, uma parte das amostras foram separadas para
análise granulométrica e datação pelo método do 210Pb. A outra
parte, foi seca em estufa ventilada a 40ºC até massa constante, peneirada para
separação da fração inferior a 2
mm . Em seguida as amostras foram quarteadas, moídas em
almofariz de ágata e passadas novamente em peneiras de granulometria de 115
mesh. Esse procedimento se faz necessário para melhor homogeneidade das
amostras para análises químicas.
2.3
Determinação de Metais e Elementos Traço por INAA
A Análise por
Ativação Neutrônica é mais freqüentemente utilizada como uma técnica
comparativa. A atividade induzida em uma amostra é comparada com algum tipo de
monitor, onde uma quantidade conhecida do(s)
elemento(s) de interesse é irradiada e contada sob condições idênticas às da
amostra (GREENBERG, 1994). Quando a técnica
é usada como método comparativo, sua exatidão é dependente da qualidade do
comparador presente, ou seja da sua concentração.
A
amostra é irradiada, após um período conhecido de decaimento, amostra e padrão
foram medidos no mesmo detector e a partir das taxas de contagem da amostra e
do padrão, conhecendo-se as massas de ambos, pode-se calcular a concentração
dos elementos presentes na amostra pela comparação das áreas de picos
referentes à contagem dos elementos do padrão, que é ativado juntamente com a
amostra.
2.4
Cálculo do Fator de
Enriquecimento (FE)
Para
se estimar os impactos antropogênicos em sedimentos, é comum se calcular o
fator de enriquecimento (FE) normalizado
para concentrações acima do nível “background”.
O FE avalia-se a extensão da poluição por metais. Se 0,5<FE<1,5 a concentração do elemento está relacionada à origem
natural ou intemperismo; valores acima de 1,5 indicam contribuições
antropogênicas.
2.5 Cálculo do Índice de Geoacumulação (Igeo)
O índice de geoacumulação (Igeo), é
usado para diferenciar a origem dos metais por processos naturais das
atividades humanas, indicando assim o grau de influência da ação antropogênica
no meio.
3
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
3.1 Validação da Metodologia de INAA: Cálculo da Concentração
em função da profundidade
Os
valores de concentração obtidos por INAA em função da profundidade, agrupados por
ordem de concentração, no testemunho de sedimento analisado, podemos destacar 3
categorias de comportamento dos elementos pela análise de gráficos.
1)
Elementos que
apresentaram, em geral, decréscimo de concentração com a profundidade: Cr, Na,
Rb e Zn;
2)
Elementos que
apresentaram, em geral, aumento de concentração com a profundidade: As e Cs;
3)
Elementos que
não apresentaram, em geral, variação acentuada de concentração com a
profundidade: Ba, Br, Co, Fe, Hf, Sc, Ta, Th e U.
Entretanto
vale ressaltar que alguns elementos apresentaram um aumento significativo de
concentração na última camada do perfil, a saber: As, Ba, Br, Co, Cr, Cs, Fe,
Rb, Sc, Th e U.
3.2 Resultados do Fator de Enriquecimento
(FE)
Anexo 1
apresenta os FE>1,5 para os elementos analisados. Obtiveram-se FE < 2
para a maioria dos elementos analisados, indicando um não enriquecimento em
relação aos valores do NASC; 2<FE<5, moderadamente enriquecido, para os
elementos Hf, Ta, Th e U; 5<FE<20, significativamente enriquecido, para
As nas quatro amostras mais profundas (32-41cm), para Br, na maioria das
amostras e Zn nas amostras na profundidade de 0 a 18 cm . Observou-se um comportamento
bastante similar para os elementos As, Br, Hf, Ta, Th, U e Zn, que apresentaram
FE>1,5, indicativo da presença de contribuição antrópica para esses
elementos.
3.3 Resultados dos valores de Igeo
Anexo 2 apresenta os valores de Igeo, para os
elementos analisados que apresentaram valores de Igeo > 0,5. Em geral,
a maioria dos elementos apresentaram valores Igeo < 0, considerados como valores basais. Foram encontrados 0<IGEO<1, não poluído, para Hf. 1<IGEO<2, moderadamente poluído para As
e também Br e Zn em algumas profundidades.
3.4 Comparação com os valores orientadores TEL e PEL
A
Tabela 1 apresenta os valores orientadores para avaliação da qualidade de
sedimento para proteção da vida aquática (água doce) utilizada pela CETEB. As observações
valem para os elementos As, Cr e Zn encontrados no presente estudo, comparados
aos valores orientadores TEL e PEL.
Comparando-se
os valores orientadores TEL e PEL para o semi-metal As, observou-se que metade
das amostras apresentaram valores de concentração < TEL indicando uma ótima
qualidade dos sedimentos para esse elemento. Entretanto as demais amostras,
apresentaram classificações entre boa e regular. Nenhuma das amostras de sedimento excedeu os
valores de PEL, classificação péssima.
Para
o Cr, observou-se que nenhuma das amostras analisadas apresentou valores de
concentração < TEL indicado ótima. A maior parte das amostras apresentou
valores com classificação boa e regular. Nenhuma das amostras excedeu o valor
de PEL, classificação péssima.
Para
o Zn, somente as amostras correspondentes às profundidades 22 à 24cm e 32 à
34cm apresentaram valor < TEL classificação ótima. As demais amostras
apresentaram valores de concentração classificações de boa, regular e ruim.
Nenhuma das amostras excedeu os valores de PEL classificação péssima.
Tabela 1: Valores orientadores de
qualidade de sedimento para proteção da vida aquática (mg kg-1)
(água doce) (CETESB, 2013)
ÓTIMA
|
BOA
|
REGULAR
|
RUIM
|
PÉSSIMA
|
|
As
|
<
5,9
|
≥5,9-11,5
|
>11,5-<17,0
|
17,0-25,5
|
>25,5
|
Cr
|
<37,3
|
≥37,3-63,7
|
>63,7-<90,0
|
90,0-135,0
|
>135,0
|
Zn
|
<123
|
≥213-219
|
>219-<315
|
315-473
|
>473
|
4 CONCLUSÕES
Com
base nos métodos qualitativos, determinação de metais pesados e elementos
traços por INAA e irradiação das amostras e espectrometria gama, foi possível
mensurar os danos que metais pesados e elementos traço causam ao longo do
percurso do Rio Tiête. A partir de amostras sedimentares, nomeadas de
testemunho, foi possível analisar as diferentes concentrações de metais devido
a urbanização e industrialização da cidade de São Paulo.
Os
resultados foram significativos para os cálculos feitos. Para a maioria dos
elementos analisados o obtido foi menor do que 1,5 para o fator de
enriquecimento (FE), valores maiores que 1,5 foram encontrados apenas para os
metais As, Br, Hf, Ta, Th, U e Zn. Para os cálculos de Igeo o valor encontrado para a maioria foi abaixo de zero, todos
os valores foram baseados nos valores do NASC como referência. Entre um
comparativo, os elementos As, Zn e Br apresentam grande impacto nas amostras
sedimentares, por influências antrópicas.
5 REFERÊNCIAS
1.
MORTATTI, J.;
HISSLER, C.; PROBST, J. Distribuição
de Metais pesados nos Sedimentos de Fundo ao Longo da Bacia do Rio Tietê, S.P. Revista do Instituto de Geociências, Vol.10, p. 3-11 (2010).
2.
BEVILACQUA,
J. E. Estudos
Sobre a Caracterização e a Estabilidade de amostras de Sedimento do Rio Tietê,
S.P. Tese (Doutorado).
Instituto de Química da Universidade de São Paulo, São Paulo (1996).
3.
MORTATTI, J.; MORAES, G. M.; KIANG, C. H. Distribuição e possível origem de metais pesados no sedimentos de fundo
ao longo da bacia do alto Rio Tietê: Aplicação da normalização geoquímica sucessiva. Revista do Instituto de Geociências
(UNESP - São Paulo), Vol. 31
(2), p.175-184 (2012)
4.
BODE, P. Instrumental
and organizational aspects of a neutron activation analysis laboratory, Delft, Interfaculty Reactor Institut Netherlands, p.147 (1996).
5.
BEVILACQUA, J. E.; DA SILVA,
I. S.; LICHTIG, J.; MASINI, J. C. Extração seletiva de metais pesados em
sedimentos de fundo do Rio Tietê, São Paulo. Quím. Nova, Vol.32 (1), pp. 26-33 (2009).
6.
CETESB.
Cia Ambiental do Estado de São Paulo. Relatórios. Disponíveis em: http://www.cetesb.sp.gov.br/agua/aguas-superficiais/35-publicacoes-/-relatorios. (2013), acessado em 07/07/2015.
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